Minúscula,
de Francine Matsumoto
Leitura de Dani Gutfreund
Tem coisa que faz a gente parar tudo tamanha a emoção.
Temos sorte de, por aqui, essas ocasiões não serem raras, pela natureza do nosso trabalho. Hoje chegou um livro que vi nascer na primeira Oficina de Escrita para o Livro Ilustrado que a Carolina Moreyra deu no Lugar de Ler e, depois, tive a honra de acompanhar. O livro, dessa jovem autora que fala baixinho, quase pedindo licença, e guarda uma força imensa que a gente assiste – lisonjeados pelo privilégio – transbordar em suas histórias, contadas por traços que, apresentados ora como palavra, ora como imagem, se misturam em total sintonia, é seu segundo projeto autoral publicado.
Minúscula, da Francine Matsumoto (nem preciso falar para guardar o nome dessa autora e começar a segui-la por aí), é de uma delicadeza sem fim. Confesso que ele me conquistou lentamente e garantiu, assim, um lugar especial, daquelas coisas que nos ensinam um novo modo de olhar e de falar. O humor da Francine é tão sutil quanto ela, quase sussurra, e permeia as histórias que conta, respingando entre as frestas do tecido que constrói: suave, leve e, sempre, muito bonito. Toda essa beleza e suavidade nos levam a entrar em um universo particular e mergulhar no que de mais profundo ela nos oferece. Há em seu trabalho uma marca forte da família amorosa e das raízes nipônicas, das tradições que se sustentam por gerações, dos aprendizados e vozes que carregamos de quem veio antes. No caso de Minúscula, depois.
Um texto enxuto, na voz de uma menina que ganha uma irmã e, quando percebe, o presente não era tudo o que imaginava. Mal se dá conta e já se transformou em irmã mais velha, o que a faz descobrir um jeito de amar que supera qualquer expectativa. Acompanhar esse processo, desde a espera ansiosa e cheia de desejo até seu desenlace, é só prazer. Na capa, vemos a menina desenhando entre recortes que vão ganhar sentido ao longo do livro: em seu retrato, a reconhecemos de mãos dadas com alguém que é quase igual a ela não fosse pelo penteado. Na folha de rosto, os recortes se fizeram castelo, os desenhos estão organizados, mas parece que tudo foi deixado ali, porque nossa menina teve que correr: era sua irmã que chegava e precisava recebê-la à porta.
Na dupla que segue, junto à pequena, observamos a sombra dos pais, enorme, cobrindo os degraus. É difícil distinguir a emoção da menina – talvez porque fosse difícil também para ela. Como se sentiria naquele momento em que tudo que esperava há meses se tornou real?
Mas, o pior: tinha planos para a irmãzinha, que esperava que a acompanhasse nas mais diversas aventuras. Só que ela veio pequena, mais que pequena, minúscula. Para vê-la precisava de um grande esforço, uma lupa talvez, que lhe pudesse mostrar o que aquele serzinho diminuto que só dorme, come e dá trabalho, pode esconder. Foi difícil descobrir tão pequena que era e tamanha sua frustração por não ter recebido alguém que, ao menos, soubesse brincar ou, quem sabe, contar até dez.
A história se desenrola entre desejo e frustração, enquanto a realidade espera entre as páginas dando tempo ao tempo para que as coisas assentem e a magia aconteça.
Os desenhos da Francine têm muita personalidade e se distinguem à distância. Neste livro, ela usa lápis de cor e pastel seco, cujas cores e textura ganham destaque sobre o papel que lembra sulfite reciclado e criam uma atmosfera afetuosa e, de certo modo, mágica, que se contrapõem aos desenhos da protagonista. Mais não vou contar. Fica para vocês lerem e se encherem de ternura. Só conto que esse livro não é apenas sobre a chegada de uma irmãzinha nem sobre se tornar irmã mais velha. Há muita coisa em jogo entre o dito e o não dito.
Ah, e sim, temos muita sorte porque essa jovem autora tem uma capacidade de criação e produção de dar inveja: vêm muitos outros livros por aí!
Minúscula
texto e ilustrações: Fran Matsumoto
Páginas: 56
Formato: 20.50 X 20.50 cm
ISBN: 9786556540214